Nos últimos anos, o comportamento dos cães em creches tem sido um tema cada vez mais discutido, e com razão. A relação entre os cães dentro desses ambientes coletivos é complexa, e entender os motivos que levam a conflitos é essencial para garantir segurança e bem-estar a todos os envolvidos: tutores, profissionais e, claro, os próprios cães.
Antes de 2011, o foco das creches caninas estava mais voltado para o enriquecimento ambiental e aspectos administrativos, e havia poucos estudos sobre a dinâmica social dos cães nesses espaços. Foi apenas com pesquisas mais recentes, como um estudo publicado em 2011, que conseguimos um panorama mais claro das interações. Esse estudo revelou que cerca de 50% das interações possíveis entre cães em creches não chegam a acontecer, enquanto 22% dos cães têm relações amigáveis com desentendimentos ocasionais, 21% desenvolvem apenas relações positivas e 7% se envolvem em interações agonísticas, ou seja, situações de disputa e agressão.
O fato é que brigas acontecem, e diversos fatores contribuem para isso: ansiedade, medo, excitação, posse, desrespeito ou inabilidade de comunicação. Muitos tutores, ao saberem que seu cão se envolveu em um conflito, me perguntam se devem mudar de creche. Minha resposta é: não necessariamente. O ideal é analisar como a creche lida com esses eventos. Existem câmeras? Como é feito o monitoramento? Qual é o espaço onde isso aconteceu? Quem eram os cães envolvidos? Esse tipo de avaliação é fundamental para tomar uma decisão consciente.
Outro ponto importante é a segurança da equipe. Monitores de creches muitas vezes relatam medo de tomar mordidas, o que pode estar ligado à falta de conhecimento sobre a leitura corporal dos cães. O treinamento adequado para esses profissionais é essencial, pois ajuda a prevenir conflitos antes que eles se agravem. Para gestores de creches, o receio muitas vezes está nas implicações legais e na reputação da empresa, tornando ainda mais necessário um protocolo bem definido de prevenção e manejo de brigas.
E quando o mesmo cão está sempre envolvido nos conflitos? Nesse caso, é fundamental analisar se ele está realmente se beneficiando da experiência da creche. Alguns cães podem estar sob estresse contínuo, sem recursos para lidar com a frustração ou medo, e o ambiente pode não ser adequado para eles. Isso não significa que a única solução seja afastá-lo da creche, mas que outras estratégias de manejo devem ser consideradas.
Um tema que sempre desperta interesse é o contágio emocional dentro da matilha. Cães são extremamente sociais e se influenciam mutuamente, o que pode tanto ajudar na socialização quanto gerar reações exacerbadas em momentos de tensão. Esse é um dos assuntos que abordarei em meu novo curso presencial sobre interações em grupo, que será lançado em breve.
Por fim, não posso deixar de falar sobre os riscos durante momentos de enriquecimento ambiental nas creches que é um assunto ainda em alta. Atividades diferentes e de acesso raro podem aumentar o interesse dos cães, o que, para alguns, pode desencadear comportamentos de posse e disputas. Saber disso é essencial para planejar a rotina da creche e minimizar riscos. Devemos considerar o grupo presente naquele dia, evitar atividades muito agitadas em condições adversas, como dias chuvosos, e oferecer sempre mais opções de interação do que o número de cães. A descentralização dessas atividades também é uma boa estratégia para reduzir a ansiedade e evitar conflitos.
Se você é tutor, monitor ou gestor de creche e quer aprofundar seu conhecimento sobre comportamento canino e manejo de conflitos, acompanhe meu trabalho.
Tenho treinamentos específicos para equipes, além de cursos que ajudam a criar ambientes mais seguros e harmoniosos para os cães. Vamos juntos transformar a experiência das creches caninas!
